Socioemocional e desenvolvimento do professor: qual o papel do gestor?

26 de setembro de 2022

Por: SOMOS Educação

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Com a implementação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), é provável que a sua escola já esteja trabalhando a formação dos alunos em todas as suas dimensões, inclusive a socioemocional. Mas, para que essa integralidade formativa aconteça de maneira efetiva, é preciso um olhar cuidadoso para o dia a dia docente.  

A formação e o desenvolvimento do professor têm impacto direto na qualidade da educação. Nesse contexto, a atuação do gestor escolar é fundamental. Neste artigo, saiba como o gestor pode contribuir para que os professores possam se desenvolver intencionalmente em todas as suas dimensões, incluindo a dimensão socioemocional. Confira! 

O olhar do gestor para o socioemocional 

É inegável que os aprendizados cognitivos são potencializados quando articulados com os aspectos socioemocionais. Trabalhar a formação dos alunos em todas as suas dimensões têm feito parte das práticas didático-pedagógicas atuais. Mas, além de trabalhar conteúdos em sala de aula e oportunizar momentos para aprendizados propositivos e contextualizados, é preciso que os educadores sejam estimulados a desenvolverem suas próprias competências socioemocionais. Afinal, como é possível auxiliar os alunos se não existe clareza sobre os próprios sentimentos? 

Poucas instituições de ensino tiveram tempo para oferecer aos seus educadores um programa de acompanhamento que os ajude a lidar com suas próprias emoções.  Será que os professores da sua escola são realmente capazes de lidar com frustrações, estão abertos para mudanças, constroem boas relações interpessoais, têm foco e sabem se organizar?  

Entender e gerenciar as próprias emoções e estabelecer relações positivas com seus pares e alunos impacta positivamente a vida do professor, o ambiente escolar e, consequentemente, o aprendizado das crianças e jovens. A dimensão socioemocional ganha forma e permite que as atividades realizadas em sala de aula não sejam apenas metas teóricas do currículo escolar. 

Para isso, é importante que o gestor escolar crie oportunidades estruturadas para que educadores possam se desenvolver intencionalmente em todas as suas dimensões. Além de estimular a formação continuada, a constante busca por conhecimento e domínio de conteúdos técnicos, os gestores devem também instigar e promover junto aos professores práticas de autoconhecimento. Isso inclui a habilidade para lidar com os próprios sentimentos e emoções, essenciais para garantir que a escola seja um espaço mais acolhedor.  

É importante lembrar que a função do gestor educacional abarca diversos cargos. Seja na coordenação, direção ou assistência pedagógica, por exemplo, a posição estratégica da função de gestão escolar inclui práticas relacionada ao processo formativo docente. Esse apoio, orientação e acompanhamento junto aos educadores é inerente à sua função. Ou seja, no seu âmbito de atuação, é importante que o gestor invista em momentos coletivos e periódicos de formação dos professores, oferecendo ferramentas, recursos e possibilidades que considerem, inclusive, o equilíbrio emocional.

Como promover o socioemocional na formação continuada de professores? 

Para integrar o tema das socioemocionais na formação do professor, a primeira grande ação do gestor deverá ser contextualizar os educadores de que as competências socioemocionais podem ser aprendidas, mesmo que eles não tenham tido a oportunidade de explorá-las na época de sua formação pedagógica. E, da mesma maneira que os alunos precisam avançar em diferentes dimensões durante seu processo formativo, as práticas e reflexão sobre o socioemocional dizem respeito ao fortalecimento do professor para sua atuação e bem-estar no trabalho

Um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) intitulado “Competências para o progresso social: o poder das competências socioemocionais” indica que “competência gera competência”. Segundo a pesquisa, as competências socioemocionais são cumulativas e não necessariamente desaparecem ao longo do tempo. Além disso, pessoas com níveis mais altos de competências socioemocionais, asseguram uma maior probabilidade de se beneficiar do desenvolvimento de competências cognitivas.  

Feita a mobilização sobre a importância desse desenvolvimento, o gestor pode apresentar um planejamento de capacitações, estimulando, inclusive, que os docentes participem ativamente dessa elaboração. Esse planejamento pode considerar práticas como: 

  • Criação de uma agenda semanal de atividades formativas presenciais e virtuais
  • Cursos práticos realizados na escola, considerando, inclusive, apoio e acompanhamento de profissionais da área de psicologia
  • Organização de trabalhos em grupo e dinâmicas colaborativas sobre temas relativos ao desenvolvimento de competências socioemocionais;  
  • Oferta de materiais que possam subsidiar o trabalho docente com competências e habilidades socioemocionais; 
  • Oportunizar intercâmbio de conhecimentos, por meio de depoimentos e relatos dos pares sobre as práticas escolares diárias; 
  • Fomentar atividades vivenciais em torno das competências socioemocionais; 
  • Dispor aos professores tempo e estímulo para momentos de silêncio, meditação, reflexão e autoavaliação.  

Além de contribuir com os aspectos cognitivos da educação, conhecer e saber lidar com as emoções é fundamental para uma boa saúde mental. Confira mais no e-book Saúde mental e bem-estar dos professores:

Competências básicas podem ser estimuladas pelo gestor 

Para elaborar o planejamento de capacitações para o desenvolvimento do professor, algumas competências socioemocionais podem ser priorizadas pelo gestor escolar. Como são diversas, vão do altruísmo à tolerância, vamos elencar aqui uma sugestão baseada na teoria Big Five, que sintetiza e organiza as competências socioemocionais em cinco principais dimensões nomeadas macrocompetências

Esse modelo organiza a ampla variação de competências socioemocionais em grupos de forma abrangente. Ou seja, cada um desses cinco eixos inclui e se desdobra em outras competências. Essa estruturação pode ser o início de práticas para compreender e apoiar o desenvolvimento dos educadores.  

As cinco macrocompetências são: abertura ao novo, autogestão, engajamento com os outros, amabilidade e resiliência emocional. Conheça-as a seguir: 

1. Abertura ao novo 

Abertura ao novo é a macrocompetência que envolve a curiosidade para aprender, a imaginação criativa e o interesse artístico. Ela articula competências como o interesse pela arte, pelas emoções e pela variedade de experiências estéticas, culturais e intelectuais. Além disso, essa habilidade socioemocional permite que o pensamento convencional seja ressignificado, a partir da curiosidade e da imaginação.  

Fundamental para a prática docente, estimular a abertura ao novo significa instigar a inovação e o pensamento crítico. Professores com essa competência possuem mais flexibilidade na forma de pensar e agir, são criativos e receptivos às novas ideias e atividades

Uma sugestão é que o gestor estimule o desenvolvimento dessa macrocompetência com os professores a partir de jogos de improviso, por exemplo. Com objetos cotidianos do ambiente escolar, proponha um exercício de imaginação criativa, instigando nos docentes novas maneiras de pensar e agir por meio da experimentação e do pensamento divergente. 

2. Autogestão 

Determinação, organização, foco, persistência e responsabilidade são traços que integram a macrocompetência nomeada autogestão. Tão essenciais para o dia a dia escolar, a autogestão assegura que professores tenham mais facilidade em estruturar e gerenciar seus processos didático-pedagógicos.   

Capacidade de concentração, não procrastinação, organização do tempo e capacidade de superar obstáculos são algumas características dos indivíduos que estimulam a autogestão no processo de formação socioemocional.  

A organização de tarefas e atividades em um planner, por exemplo, pode ser uma prática supervisionada pelo gestor para mobilizar a autogestão dos docentes. Estimule os professores a definirem objetivos e metas e, após um prazo previamente acordado, revisite esse planejamento avaliando se houve sucesso com os propósitos traçados. 

3. Engajamento com os outros 

Engajamento com os outros é a macrocompetência que envolve iniciativa social, interesse pelo mundo, assertividade e entusiasmo. Diz do estímulo para conhecer e dialogar com outras pessoas e comunicar-se de forma clara e segura. Parece que descrevemos o ideal de atuação de um professor, não é mesmo? Por isso essa macrocompetência se mostra tão essencial.  

Ter a capacidade de se relacionar com o próximo de maneira positiva, estar aberto, entusiasmado, mobilizar e liderar pessoas quando necessário são os principais pontos sobre o engajamento com os outros. Esses comportamentos fazem com que os professores atuem como modelo para os estudantes e seus pares. 

Considerando que a escola é um ambiente rico em interações, diversas ações do dia a dia podem ser utilizadas para trabalhar o desenvolvimento dessa macrocompetência. A sugestão é que o gestor convide os professores a se envolverem em situações pautadas no trabalho colaborativo, interagindo e aprendendo com qualquer um dos agentes da comunidade escolar (colegas, alunos, pais e responsáveis).  

4. Amabilidade 

Cooperação e colaboração são tendências comportamentais da amabilidade. Ela é composta pelas competências empatia, respeito e confiança, considerando os sentimentos de compaixão, justiça e acolhimento. Colocar-se no lugar do outro, valorizar a boa relação com o próximo, ser prestativo e disposto são características de indivíduos amáveis, que também conhecem e valorizam suas próprias necessidades.  

Essa macrocompetência é essencial para assegurar um ambiente escolar positivo e acolhedor para a aprendizagem. E, através de uma atividade comumente realizada com os estudantes, o gestor pode também estimular a amabilidade com os professores.  A escuta ativa empática é um recurso que pode ser aplicado em grupos docentes, estimulando um olhar para além do verbalizado, considerando expressões faciais, tom de voz e outros comportamentos não verbais do colega, tentando melhor compreendê-lo. Vale também atentar-se para não interromper o próximo, estabelecer uma conexão e resumir os principais pontos da conversa na tentativa de confirmar a compressão do que foi dito. 

5. Resiliência emocional 

Resiliência emocional é a macrocompetência que envolve a administração de fatos desafiadores sem que haja mudanças bruscas de humor. Está relacionada à capacidade de lidar com situações adversas com tranquilidade e positividade. 

Com estabilidade e resiliência emocional, há uma maior tolerância ao estresse e à frustração. Ou seja, existe uma maior capacidade de lidar com as próprias emoções, demonstrando equilíbrio e controle sobre as reações emocionais, e estabelecendo relações mais sólidas e saudáveis. 

Imprescindível para o fazer docente, essa macrocompetência pode ser trabalhada pelo gestor com a equipe a partir de atividades de autoconhecimento. Apresente os conceitos de vulnerabilidade e adversidade e peça aos professores que identifiquem situações que podem gerar algum tipo de desconforto. Relacionados os itens, reúna grupos para refletirem sobre esforço de superação e adaptação positiva. 

Motivação da equipe escolar 

O desenvolvimento do professor tem impacto direto nos resultados da escola. Uma educação de qualidade requer professores bem formados e desenvolvidos em múltiplas dimensões. Instruído e edificados, eles atuam de maneira mais motivada, considerando melhores práticas e vivência em sala de aula. Dessa maneira, além de buscar novas metodologias de ensino e a modernização de práticas pedagógicas, cabe ao gestor escolar estimular e incentivar a motivação e a formação integral de seus professores.  

O contexto educacional atual exige cada vez mais habilidades e competências aos educadores. Adaptar-se a mudanças é sempre um processo difícil, que requer autoconhecimento e flexibilidade. Sobre isso, conversamos com a professora Maria Elisa Moreira. Em uma entrevista exclusiva, ela conta como os educadores podem se manter motivados para motivarem estudantes. Baixe gratuitamente o e-book “Motivação da equipe escolar” e confira! 

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